segunda-feira, 22 de junho de 2015

LÁ DE NÓIZ:

COISAS DE MATUTO
Sô sertanejo de fato
Calçado de alpercata
Vivendo sem aparato
Plantando milho e batata
Com as mão já calejada
De tanto puxá inxada
Dêrna de cabroche luto
Já levo de manhãzinha
Rapadura com farinha
Qui são coisas de matuto.

Cum chamado da nambu
É hora de levantá
Queijo de coalho e angu
E café pra despertá
Sintonizo na Princesa
Pra mi interá com certeza
Das nutiça qui disfruto
E boto logo a cangaia
Pego meu chapéu de páia
Qui são coisas de matuto.

Maria barre o terrêro
O gado sai pra pastá
Um preá passa ligeiro
O burro vai inpancá
Na cozinha alvoroço
Pra começá o armoço
Já fumega resoluto
Fogão de lenha, pilão
Carne de charque, baião
Qui são coisas de matuto.

Boto pernêra e gibão
E gado pra campeá
No abôio a solidão
Deixo a trsteza passá
Sô sertanejo cunfesso
Minha alegria expresso
No sabiá que iscuto
Vejo no canto uma prece
Qui a natureza oferece
Qui são coisas de matuto.

E na vorta do roçado
Arreparo como é bela
Uma vida sem infado
Gado gordo, boa sela
Cuscui de mio, fubá
Leite com muncunzá
É jantá qui num discuto
Com meus fio e a muié
Munto amô e cafuné
Qui são coisas de matuto.

Autor: Antônio Carlos.
Fonte: livro Coisas de Matuto – Antônio Carlos Matos de Oliveira – CJA Edições – 2015. 

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