segunda-feira, 24 de novembro de 2014

ARTIGO:

O fantástico mundo da escritora Carol Vasconcelos*
Enquanto houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, amor e fantasia.
E enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança.
William Shakespeare
Depois de ler “A Filha de Gaia” da escritora potiguar Carol Vasconcelos, volto a relembrar uma velha frase de Freud, segundo a qual os romancistas são aliados preciosos, e o seu testemunho merece a mais alta consideração, porque eles conhecem, entre o céu e a terra, muitas coisas que a nossa sabedoria escolar nem sequer sonha ainda, pois bebem de fontes que não se tornaram ainda acessíveis à ciência, A jovem ficcionista acabou de publicar seu mais novo livro, um romance onde os seres mágicos e o universo fantástico são personagens principais.
A obra começa de forma bastante interessante; no prólogo, nos deparamos, com uma espécie de carta aos humanos, questionadora e reflexiva, enviada pelo personagem Ellyllon. Nas páginas seguintes, acompanhamos a comovente história da jovem Aurora, que, com três anos de idade foi deixada na porta de um orfanato, e enquanto ia crescendo, observava  a destruição da natureza no mundo, o derretimento das geleiras, queimadas, devastação das florestas, inclusive a amazônica, propriedade dos Estados Unidos, em um futuro próximo.
Aurora  tinha características diferentes  das outras crianças, via coisas que as outras não podiam ver, pequeninas criaturas. Aurora cresce notando que não faz parte deste mundo, sentindo falta de alguma coisa, algum lugar, reconhecido apenas em seus sonhos. Certo dia, de céu cinza, pois  já não havia mais cor no planeta,  A jovem vai a uma biblioteca, e conversa com a nova bibliotecária,  e procurar entender o motivo porque  ela era a única a conhecer aquelas criaturas que apareciam em  seu mundo, e descobre então, ao ver as orelhas da bibliotecária, que não está sozinha. A partir daí, consegue algumas explicações. Arya, bibliotecária do orfanato, lhe diz que existem várias outras criaturas que os seres humanos não podem ver, mas ela, A Filha de Gaia, pode. Aurora é a criança vinda à terra para manter o equilíbrio e a ordem entre o planeta Terra e o Mundo da Magia.
A história fantástica e instigante continua pelo universo da fantasia, e o leitor mais atento vai observar que por trás de uma temática maravilhosa, também há um pretexto para engajamento, ou seja, a preocupação com a natureza, com  o bem-estar da  humanidade. A cada capitulo  o livro ganha criatividade e força, e conta com um final muito bem elaborado, onde o mundo dos humanos passa por uma reconstrução, tudo tendo como fonte a imaginação da escritora.
É notório que a literatura fantástica tornou-se, especialmente nas últimas décadas do século XX, e início do XXI, uma importante vertente da literatura, espécie de fenômeno mundial,  que tem atraído principalmente os jovens. No Rio Grande do Norte, não tinha muita visibilidade essa vertente literária, mas, nos últimos anos, vêm surgindo novos nomes. Apenas para citar uma turma jovem: Monalisa Silvério, Roniere Lopes, Rafael Marques, e a própria Carol Vasconcelos, que lançou em 2010 “Contos do Mundo Mágico”.
A obra de Carol Vasconcelos, está na chamada linha da Fantasia, gênero que usa a magia e outras características sobrenaturais como elementos principais do enredo, da temática e ou da construção da obra Os trabalhos nesta área variam amplamente, a partir da teoria estruturalista de Todorov, que enfatiza o fantástico como um espaço liminar para se trabalhar sobre as conexões históricas e literárias entre o medievalismo e a cultura popular. Por ser tão rico, o gênero literário invadiu também o cinema através de filmes que usam magia, elementos sobrenaturais e personagens fabulosos em seu contexto. “A Filha de Gaia” é mais uma prova de que estamos antenados com  o que  acontece no universo literário.

*Thiago Gonzaga é pesquisador da literatura potiguar.
Postado por 101 Livros do RN.

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