segunda-feira, 8 de setembro de 2014

COSTUMES DO SERTÃO:

CRIAÇÃO DE GADO
 
Em geral, quem criava gado também criava ovelha. Geralmente, os currais de gado e de ovelhas ficavam ao lado da casa de residência. Ambas as espécies eram lucrativas, sendo o gado mais proveitoso para a família, em virtude da produção de leite para suprir as necessidades da casa. Possuir algumas vacas de bezerro significava dispor de leite para a alimentação das pessoas que viviam na casa sertaneja, sobretudo pelas múltiplas utilidades que esse produto representa no consumo humano. Quando um chefe de família precisava de leite para alimentar crianças, mas não tinha condições de possuir uma vaca, era comum um criador emprestar uma vaca de bezerro ao vizinho. O beneficiário cuidava da vaca e do bezerro, desfrutava do leite e quando a vaca apartava, ele a devolvia ao seu dono.


O gado era identificado pelo ferro do proprietário. A marca era composta pelas duas primeiras letras do nome do pecuarista. Além do ferro do proprietário, cada rês também era marcada com a letra da região. As duas insígnias (a do proprietário e a da região) eram esquentadas em brasa até o ferro ficar vermelho, momento em que cada uma era aposta numa das pernas traseiras da rês. A marca do proprietário era aposta na parte lateral da coxa da rês; a letra regional, na parte detrás da coxa. Saía fumaça. As marcas ficavam visíveis durante toda a vida do animal.


Na estiagem, as vegetações dos tabuleiros perdem as folhas. Quando cai a primeira chuva, no mês de janeiro, após alguns dias essas árvores começam a adquirir nova folhagem que o sertanejo chama de “rama".


Quando já existe alimentação suficiente no campo, o curral, que na época da estiagem era o lugar mais preferido pelo gado, passa a ser o mais odiado. Isso porque o esterco existente no curral, ao ser molhado pelas chuvas, enlameia o local, impossibilitando o gado de se deitar em terreno enxuto.    


Como a família precisava do leite, as vacas juntamente com seus bezerros eram campeadas a cada dia, na parte da tarde, para serem trancadas no curral, separando-as dos respectivos bezerros durante a noite. Essa era uma tarefa da garotada. Ao amanhecer, era tirado o leite de cada vaca manualmente. Em décadas passadas, como o leite era utilizado apenas para o consumo da própria família, o bezerro passava o dia junto com a vaca, mamava quantas vezes quisesse. O bezerro crescia bem nutrido. Isso era importante para quem criava gado.
Fonte: Memórias Campestres - Ernandes da Cunha.

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