terça-feira, 19 de agosto de 2014

ARTIGO*

ARIANO SUASSUNA
“Tudo que é vivo morre!” É uma das frases pinçadas em as muitas obras criadas para o teatro ou para a prosa de ficção desse genial paraibano que morreu, no dia 23 deste mês de julho, aos 87 anos. Ariano Suassuna deixou um extraordinário trabalho, em sua permanente luta pela valorização da cultura popular brasileira. Retratou como ninguém o humor inteligente do nordestino, e seu estoicismo diante das agruras da vida. Em outra frase, encontrada em uma de suas inúmeras entrevistas, se definia: “Não sou nem otimista nem pessimista. Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista esperançoso. Sou um homem da esperança. Sei que é para um futuro muito longínquo. Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo.”

Sobre os vocábulos regionais usados dizia com orgulho: “Não troco meu oxente pelo ok de ninguém!” Dedicou a vida a essa determinação de mostrar a cultura autóctone de sua Paraíba e de seu nordeste.

Esteve à frete de movimentos, como a criação do Teatro do Estudante de Pernambuco, do Teatro Popular do Nordeste, da defesa de livre-docência, na Universidade Federal de Pernambuco, e iniciou o Movimento Armorial, interessado no conhecimento e no desenvolvimento das formas de expressões populares tradicionais. Juntou nomes expressivos da música para a busca de uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura, pintura e escultura.

Esse acontecimento coincide com o surgimento, aqui em Uruguaiana, da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul (1971). Minha admiração por esse paraibano tem origem nesse empenho pelo respeito à arte popular, e a busca de um tratamento digno de seus valores. Pois foram esses propósitos que, respeitadas as devidas proporções, me fizeram acreditar que valia a pena brigar pela valorização da nossa música de raízes gaúchas.

Em janeiro de 1976, quando a lenda da Salamanca do Jarau foi apresentada em Cosquin, no maior Festival de Folclore da América do sul, pelo Ballet Brandsen, coincidentemente estava presente o Quinteto Armorial, representando a música nordestina do Brasil.

Também, essa busca por um tratamento erudito das expressões da arte popular, estava evidente na apresentação da “Caminhada”, canção composta em parceria com o compositor uruguaianense Sérgio Rojas, apresentada na décima terceira edição da Califórnia por um sexteto de cordas onde despontavam músicos da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre.

Ariano Suassuna morreu, pois, como ele mesmo afirmava, “tudo que é vivo morre”. Mas seu amor à arte de sua terra deixa serviços prestados que não morrerão jamais.

É com esse sentimento que, no momento que a prefeitura municipal de nossa cidade, pela sábia decisão do prefeito Luiz Augusto Schneider, e a Associação Pró-Arte e Cultura de Uruguaiana, pela determinação inteligente do presidente Marcelo Duarte Ribeiro, acertam os detalhes finais da criação do Balé Municipal, queremos, modestamente, prestar homenagem ao grande brasileiro Ariano Suassuna.

Encerramos, citando mais uma frase sua: “Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.” 

* Colmar Pereira Duarte, nasceu em 21 de maio de 1932, no interior do município de Uruguaiana, RS. Filho de Luiz Duarte Júnior e de Alice Pereira Duarte. Poeta, escritor, compositor; tem trabalhos publicados e outros inéditos, na área de pesquisa, ensaio, teatro, romance, conto, poesia, dança, desenho e folclore, com incursões no rádio e no cinema.
Postado por 101 Livros do RN

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