segunda-feira, 19 de maio de 2014

POEMA

LAMENTO SERTANEJO
A vida de hoje pouco me agrada
Cadê a passarada?
Não vejo voar
Apenas um canto, rouco e pequeno
O galo sereno
Sem força ao cantar

A casa de barro nos confins sem brio
Sem água o rio
Pro gado beber
No pátio a carroça na cerca encostada
Porteira quebrada
E o cachorro a correr

O milho não brota, também o arroz
comida pros bois
Nem de pó de cuscuz
A seca assola, amedronta a peste
Do norte pro leste
voam os urubus

No fogão de lenha a espera à comida
Roncando a barriga
Fica de prontidão
Que adentre a porteira, um pouco, uma sobra
Vargem de algaroba
Pro magro leitão

Relincha o jumento, ouço a tristeza
na natureza
A cor se embrulha
Sentada no chão chora a criança
A mãe com confiança
Um terço debulha

Se vale de Deus, o Pai da clemência
Em Jesus guarda a crença
Para uma vida sem dor
A vida rural é vida distante
Tudo é bem constante
Vendo em Deus o amor

O pilão não bate, sem ovos a galinha
Sem a farinha
Não há o sustento
O feijão escaço, se quer um caroço
cadê o almoço?
Meu Deus já não aguento

O cheiro do mato também já não sinto
É um labirinto
Os caminhos na roça
A cobra se arrasta, no chão, na areia
desenha a veia
E a vida destroça

Lampião acesso, a noite chegou
O gato miou
É hora de deitar
Seis horas da tarde, e nessa agonia
A Virgem Maria
Vamos aclamar!

No meio do pasto o gado agoniza
Uma estaca avisa
Uma caveira fincada
O riacho secou, o capim morreu
E nada nasceu
Na terra rachada 

Na alvorada, a luz, a esperança
Numa só lembrança
Todos em comum
Comemos a glória, bebemos a vida
Matéria consumida
Louvemos o jejum

Edivam Bezerra 
- Poeta Assuense
Foto ilustrativa: Malhada da Roça.Com

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