segunda-feira, 31 de março de 2014

GOLPE DE 64

Há 50 anos, o Congresso dava fim ao governo João Goulart
Auro (no destaque) declara vaga a Presidência em sessão conjunta do Congresso Foto: Reprodução

Os últimos atos da tragédia política vivida pelo país em 1964 tiveram tom melancólico. Na madrugada de 1º para 2 de abril, ao presidir o Congresso em uma sessão relâmpago, o senador Auro de Moura Andrade, do PSD de São Paulo, atropelou os protestos dos parlamentares que apoiavam João Goulart, ignorou as questões de ordem apresentadas e declarou o fim do governo de Jango. “Comunico ao Congresso Nacional que o senhor João Goulart deixou, por força dos notórios acontecimentos de que a nação é conhecedora, o governo da República”, afirmou, em meio a gritos de apoio e de protesto de deputados e senadores.

“Declaro vaga a Presidência da República e, nos termos do artigo 79 da Constituição, declaro presidente da República o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli”, disse Auro de Moura Andrade.

Foi lido — e desconsiderado — o ofício enviado ao Congresso por Darcy Ribeiro, então chefe da Casa Civil. “Em virtude dos acontecimentos nacionais das últimas horas, para preservar de esbulho criminoso o mandato que o povo lhe conferiu, investindo-o na chefia do Poder Executivo, [Jango] decidiu viajar para o Rio Grande do Sul, onde se encontra à frente das tropas militares legalistas e no pleno exercício dos poderes constitucionais, com seu ministério”, declarava Darcy.

Últimos embates

No dia 2, o clima era de ressaca política. “Jango estava impedido de governar. Perdera as condições. Evidenciara demais a sua política de favorecimento à implantação atrevida do comunismo no Brasil”, disse o senador Eurico Rezende, da UDN do Espírito Santo. “Jango não poderia estar no território brasileiro, a não ser naquele ponto de uma cidade do país — Porto Alegre —, ainda debaixo da agitação do deputado Leonel Brizola. Por conseguinte, estava física e metafisicamente impedido”, reforçou o senador Padre ­Calazans, da UDN de São Paulo.

Para evitar uma guerra civil, o presidente da República preferiu não resistir ao golpe de estado. Começavam os 21 anos de ditadura militar.

O senador Arthur Virgílio Filho, do PTB do Amazonas, que, como líder do governo, veementemente defendera o presidente João Goulart e suas reformas de base, ainda duelava no Plenário do Senado.

“Vou dizer aquilo que penso, indiferente à força que atualmente nos cerca, a força que pode tudo, menos esmagar ideias, menos esmagar a liberdade, menos esmagar a democracia. Força que pode prevalecer, força que tem prevalecido em algumas oportunidades, mas que tem sido varrida, pelo mundo afora, pela liberdade, que finalmente vence sempre”, disse o senador, posteriormente cassado.

Ansiedade

No dia 31 de março — que passou a ser celebrado pelos militares no poder —, o Plenário do Senado aguardava as informações sobre a crise com ansiedade. Os parlamentares que eram alheios à conspiração contra o governo de João Goulart esperavam em vão por uma notícia tranquilizadora.

Enquanto o senador Aurélio Vianna, do PSB da Guanabara, pedia que “os líderes da República” buscassem o entendimento diante da crise, deixando “o conformismo e a insensibilidade política”, as luzes do Plenário se apagaram. A sessão foi suspensa por cinco minutos. Em seguida o parlamentar tentou novamente uma resposta entre os colegas, especialmente entre os de oposição, nos quais notara “certa euforia”.

“Ninguém precisa ser profeta para descortinar o futuro que nos espera se não houver um entendimento que salve as instituições democráticas”, alertou Aurélio Vianna. “São verdadeiras as notícias? Esta Casa pode ser informada sobre os acontecimentos?”, continuou.

Em aparte, o senador Afonso Arinos, da UDN do Rio de Janeiro, informou que falara ao telefone com Magalhães Pinto, governador de Minas Gerais, e prometeu logo apresentar um comunicado. Mais tarde se saberia que Magalhães Pinto, também da UDN, principal partido de oposição ao governo, se movimentava para derrubar Jango.

Afonso Arinos leu, então, a “proclamação dirigida à nação”, de Magalhães Pinto. O político mineiro manifestava solidariedade à Marinha e via na chamada revolta dos marinheiros, ainda que já debelada, razão para afastar Jango da Presidência.
Fonte: Jornal do Senado

Nenhum comentário:

Postar um comentário