segunda-feira, 4 de novembro de 2013

VIAGEM AVENTURA

NASCENTES DO RIO PIRANHAS /ASSU

Ivan Pinheiro Bezerra*
Revirando minha papelada encontrei o rascunho do relato que fiz durante uma viagem à uma das nascentes do Rio Piranhas/Assu e mesmo sendo um pouco extenso, resolvi compartilhar com meus leitores. 

Como sempre tenho dito neste espaço, nossa história é fantástica assim como a nossa geografia. Poucas cidades no mundo dispõem de condições naturais parecidas com as que temos em nossa região. Solo de excelente qualidade, bacia hidrográfica invejável, reserva de água doce no subsolo inigualável em nível estadual... Além de uma história de lutas e de vitórias de seu povo que em muitos momentos se confunde com a trajetória histórica do Rio Grande do Norte.

Tenho trocado ideias e ouvido atentamente pessoas que desejam dar injeções de ânimos para valorização do nosso município e região. Uma destas pessoas é o respeitável geólogo Eugênio Fonseca Pimentel que, infelizmente, por ser conterrâneo, nós, assuenses, não reconhecemos o devido valor que ele tem demonstrado através da sua capacidade intelectual. Sem dúvidas Eugênio é um geólogo respeitado por diversos órgãos da esfera estadual e federal além de gozar de prestígio através de seus artigos espalhados pelo mundo afora, através da internet, muitas vezes levantando polemicas em assuntos pertinentes a geologia e servindo de fonte para diversas teses universitárias.

Pois bem, na tentativa de verificar o posicionamento de Eugênio de que o Rio Piranhas/Assu possui uma das nascentes na divisa do Estado de Pernambuco com a Paraíba, e não, tão somente, na cidade de Bonito de Santa Fé como os historiadores e geógrafos até pouco tempo tinham publicado, inclusive em livros didáticos, recebi um convite do meu amigo Ronaldo Soares para visitar a nascente ou as nascentes do nosso rio. 

A priori os membros da viagem exploradora seriam: Ronaldo Soares, Eugênio Pimentel, Francisco de Oliveira Neto – o Neto Muriçoca e Ivan Pinheiro. No entanto, no dia programado Eugênio estava com um problema de saúde e não pôde nos fazer companhia. Diga-se de passagem, nos fez muita falta, até porque, dos quatro, ele é o único que conhece a fundo toda a geologia pertinente a este grande rio. Mas mesmo assim, seguimos viagem sob a orientação de GPS e de mapas fornecidos por Eugênio. 

Resolvemos que iríamos pelo lado leste, ou seja, margem direita e retornaríamos pelo lado Oeste - margem esquerda da bacia Piranhas/Assu. Somente assim teríamos uma comprovação de onde vêm as águas que banham a nossa cidade e região. Saímos na sexta-feira dia 29 e retornamos no domingo dia 31 de maio do ano de 2009. Foi uma viagem maravilhosa, com muitas aventuras e uma certeza: nosso rio Piranhas/Assu possui três nascentes; uma na divisa da Paraíba com Pernambuco, outra na divisa dos Estados da Paraíba, Pernambuco e Ceará e a outra, a mais conhecida, no município de Bonito de Santa Fé.

No primeiro dia percorremos a bacia do rio passando pelos municípios de: Itajá, São Rafael, Jucurutu, Caicó, Pombal, Cajazeirinhas, Coremas e pernoitamos em Patos na Paraíba. No sábado seguimos viagem rumo ao Pernambuco subindo a Serra do Teixeira. Uma surpresa. No topo da serra, há quase novecentos metros de altura acima do nível do mar, uma vista paradisíaca, nos deparamos com um enorme Oratório (construído numa rocha) e para nossa alegria, lá estava, no meio de diversas imagens, a nossa mártir Irmã Lindalva Justo de Oliveira. 

Seguimos viagem passando por Teixeira, Itapetim, São José do Egito, Tabira, Afogados da Ingazeira e Carnaíba – uma pequena cidade que tem como filho ilustre Zé Dantas poeta e compositor autor de várias músicas gravadas por Luiz Gonzaga, Ivon Cury e outros artistas. Entre estas musicas destaco: Riacho do Navio e Cintura Fina. Orgulhosa a cidade ostenta um enorme outdoor com a frase: “Terra dos Músicos e da Poesia”. Qualquer semelhança com o pseudônimo do Assu é mera coincidência...

Seguimos viagem passando pelos municípios de Triunfo e Serra Talhada – Terra do famoso Virgulino Ferreira da Silva – o Lampião. Em Serra Talhada nossa intenção era de visitar o museu. Infelizmente, por se tratar de um sábado, estava fechado. No entanto, visitamos a Casa de Cultura. Confesso que me senti invejoso – sentimento que não costumo cultuar - isso só me ocorreu quando pensei em comparar a Casa de lá com a do Assu. Meu caro leitor, a Casa de Cultura de Serra Talhada possui um acervo histórico da cidade e sobre Lampião, fantástico. Fotografias antigas da cidade e do bando do cangaceiro, objetos que pertenceram às famílias do lugar, acervo documental, livros, bustos de poetas, escritores e políticos ilustres da cidade... Enfim, faz gosto visitar aquele espaço. 

Almoçamos em Serra Talhada. Depois, seguimos em busca da desconhecida nascente do Piranhas/Assu, nascente esta desprezada e/ou desconhecida de nossos historiadores e geógrafos. Depois que rodamos alguns quilômetros nos deparamos com uma belíssima cachoeira com uma queda d’água de aproximadamente 60 metros de altura. Paramos o veículo e fomos a pé até sua queda. Em conversa com moradores descobrimos que ali era uma das nascentes do Rio Pajeú. 

Seguimos viagem e chegamos ao topo da serra da Baixa Verde local onde ocorre a divisão de limites dos municípios de: Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo ambos pertencentes ao Estado do Pernambuco e São José de Princesa – Pertencente ao Estado da Paraíba. A pouco menos de 10 minutos de descida do topo da serra, finalmente chegamos a uma das nascentes do Rio Piranhas/Assu

A nascente (fotos abaixo) não é uma cachoeira como a do Rio Pajeú. Na verdade começa com pouca água caindo dentre as pedras e ramos, vai serpenteando ladeira abaixo recebendo o nome de Riacho Grande, mais à frente, Rio das Cachorras formando um leito caudaloso até se encontrar com as águas do Rio Piancó no município de Boa Ventura - PB. 

Depois que encontramos a primeira nascente partimos com destino a Conceição – Terra da famosa cantora Elba Ramalho. Pegamos uma estrada extremamente esburacada, constantemente subindo e descendo serra, muitas vezes utilizando a tração da camioneta para sair de atoleiros e/ou romper pedregulhos deslizantes. Finalmente, depois de três horas e dez minutos de aventura chegamos a Ibiara e poucos quilômetros a mais em Conceição onde pernoitamos. 



À noite conversamos com Wellington, um cidadão proprietário de um Restaurante, e pegamos informações de como chegar às outras duas nascentes, ou seja: a nascente de Santa Inês na divisa dos Estados da Paraíba, Pernambuco e Ceará cuja nascente percorre uma pequena parte do território pernambucano e passa por trás da Igreja de Conceição recebendo o nome de Rio Piancó. Segundo ele, para chegar à nascente gastaríamos 4 horas de estrada carroçável em cima de serras. A outra nascente, que é a tradicional que nasce na cidade de Bonito de Santa Fé teríamos uma trajetória menor, no entanto percorríamos alguns quilômetros a pé. Por falta de tempo, já que teríamos que retornar ao Assu no domingo pela manhã, resolvemos adiar a visita às outras duas nascentes para outra viagem aventura, desta feita, esperando poder contar com a presença do geólogo Eugênio Pimentel que certamente irá nos auxiliar nestas explorações. 

A viagem, na qual rodamos 1090 quilômetros, foi uma maravilha. Conclusão: O Rio Piranhas Assu não possui uma só nascente e sim três nascentes, inclusive uma delas ainda banha uma pequena parte do Estado de Pernambuco.

O geólogo Eugênio Pimentel tinha plena razão: o Rio Piranhas/Assu possui uma nascente na serra da Baixa Verde divisa da Paraíba com o Pernambuco; Existe outra nascente que se localiza no eixo divisório da Paraíba, Pernambuco e Ceará e a terceira nascente, a mais conhecida, fica no município de Bonito de Santa Fé na Paraíba. As águas da nascente de Bonito de Santa Fé recebem o nome de Rio Piranhas quando passa pela cidade de São José de Piranhas onde existe o primeiro açude denominado de Açude Piranhas ou Engenheiro Ávido. O Rio Piranhas percorre os municípios de Marizópolis, Sousa, Aparecida, São Domingos de Pombal e se encontra com o Rio Piancó na cidade de Pombal.

Já as nascentes de Santa Cruz da Baixa Verde e as de Santa Inês percorrem o seguinte trecho: Conceição, Ibiara, Diamante, Boa Ventura, Itaporanga, Piancó e formam a grande Barragem de Coremas na cidade do mesmo nome. A Barragem de Coremas alimenta o Rio Piancó que se encontra com o Rio Piranhas na cidade de Pombal. De lá para cá recebe o nome de Piranhas até o município de Jucurutu (divisão territorial com o município do Assu) e forma a grande bacia da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves. De Jucurutu até o município de Pendências recebe o nome Rio Piranhas/Assu. Após banhar o território de Pendências divide-se em delta recebendo três nomes distintos: Rio das Conchas, Rio Amargoso e Rio dos Cavalos os quais desaguam no Oceano Atlântico entre os municípios de Porto do Mangue e Macau.

Como o leitor pôde observar: o Rio Piranhas/Assu é a alma do nosso Vale... O rico solo banhado por este Rio é decisivo na promoção do desenvolvimento econômico e do bem-estar social. Gerador de forças de produções e de divisas. O Piranhas/Assu é o elemento essencial para a sobrevivência de todos os seres vivos... Fundamental à vida. Afinal, a água é o sangue da terra.

Ver o Rio Piranhas/Assu sofrendo, moribundo e agonizando é como presenciar a morte de um herói encurralado por bravas feras famintas. 

Precisamos cuidar melhor do nosso rio. Afinal, a água é um bem de todos. Daqui a algumas décadas, com certeza, um dos maiores problemas que devemos encarar é o uso racional dos recursos hídricos. Um “caneco” de água poderá, num futuro próximo, ser muito valioso no Vale do Assu. É tempo do Vale acordar para os problemas ambientais que mata lentamente o Rio Piranhas/Assu.

*Ivan Pinheiro Bezerra
Licenciado em História
Especialista em:
História do Brasil República – UERN 
Gestão Pública – UFRN.

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