terça-feira, 2 de julho de 2013

MEMÓRIAS

BOI MASCARADO
Foto ilustrativa
Por Ivan Pinheiro
As pacatas ruas do Assu próximas ao Matadouro Público da Rua José Leão / Bernardo Vieira sempre se agitavam quando ecoava o grito de um de seus habitantes:

- Lá vem um boi mascarado!!!!

Na Praça Vereador Luiz Paulino Cabral – a popular “rua do córrego”, por exemplo, saiam meninos de todos os recantos... Donas de casas fechavam suas portas... Os adultos gritavam nervosos para que seus filhos viessem para casa. Mas os garotos não ouviam os apelos desesperados dos pais, queriam participar da algazarra... Cada um pegava uma pedra, um tijolo, um pedaço de madeira ou ferro para melhor se defender.

Na “Rua do Córrego”, nesta época (anos setenta) existia uma fileira de pés de fícus onde abrigava, diariamente, dezenas de meninos (meninas não frequentavam ao recinto). As sombras das frondosas árvores serviam de ponto de encontro para os desocupados. Lá diversas brincadeiras eram executadas. Não demorava muito para que brigas fossem travadas.

Uma coisa que mudava, realmente, a rotina da rua era o boi mascarado. Geralmente conduzidos por dois vaqueiros que ficavam desorientados com tantos meninos batendo ou apedrejando o animal que, valentemente, corria sem rumo certo na direção do barulho provocado pela gritaria da garotada. Quando era “uma boiada” a farra era deslumbrante, em algumas ocasiões durava a tarde inteira.

Não era difícil a invasão domiciliar. O bicho entrava quebrando o que estivesse pela frente. Sorte daqueles que tinham as casas com piso de “cimento queimado” porque o boi deslizava e caia logo na sala. Quem tinha aquele tipo de assoalho usava cera ou pó de carnaúba para ficar lisinho e dar brilho ao piso... Escorregava igual a sabão. O boi ali abria escala e era preciso ser arrastado pelo rabo. Aventura à parte.

Terminada a “farra do boi” era hora de retornar para casa, pedir perdão aos pais, dizer que não ouviu seus chamados... Muitos “esquentavam os couros” calados para que os colegas não ouvissem seus gritos e no dia seguinte fizessem “praia” em baixo dos ‘pés de fícus de João da Rocha’.

A “farra do boi” era na verdade uma despedida. Os meninos maiores só ficavam satisfeitos quando chegavam ao curral do matadouro. Lá o pobre e indefeso animal bebia água, descansava e ficava aguardando a madrugada chegar, hora de ser conduzido ao colchete para receber a certeira machadada na cabeça.

Reminiscências do meu tempo de criança...

Hoje, relembrando aqueles tempos me deparo com a poesia do mestre poeta João Lins Caldas:

UM TOURO

Vais morrer, vais morrer...
O cepo do marchante breve te pesará
Sobre a cabeça rude...
E tu, pobre animal, sem crime e sem virtude,
Nunca mais hás de ver e ter curral distante.
Jamais há de provar, num mourejar constante,
Entre vacas e bois, a revelar saúde
Das águas de cristal do mais sereno açude
Ou do verde capim do campo mais fartante.
A tua pobre carne há de servir de pasto...
E quando fores nada, quando fores gasto,
Te resta esse consolo, o consolo dos mortos:
Morreste para servir, alimentando vidas,
Muito franco pesar, muitas dores compridas,
Muitos cegos que vão pelos caminhos tortos...



COMENTÁRIO:

Puxa! Que recordação! Eu assisti a muitas farras do boi mascarado. No início dos anos setenta, ainda morávamos na Rua João Pessoa, esquina com a casa de Damião Boi, e então, aconteceu. Eu olhava, na porta da frente, a passagem do boi mascarado para a matança e era aquele rebuliço; de repente, o boi enorme deu uma volta e riscou na minha frente e com um grande salto, atingiu a porta (composta de duas partes),quebrando o ferolho. Só tive tempo de me recolher com meu filho pequeno,e o boi saiu desfilando (andando devagarzinho) pelo piso de cimento. Foi incrível! Ele chegou até o muro e de lá em diante, Damião Boi, Clóvis e outros, o retiraram pela garagem.Vivemos um momento de pânico. As pessoas que estavam em casa, se protegiam como podiam, houve alguém que pulou o muro do vizinho.Foi um dia inesquecível! 

Maria Willima Barbosa 

Um comentário:

  1. Puxa! Que recordação! Eu assisti a muitas farras do boi mascarado. No início dos anos setenta, ainda morávamos na Rua João Pessoa, esquina com a casa de Damião Boi, e então, aconteceu. Eu olhava, na porta da frente, a passagem do boi mascarado para a matança e era aquele rebuliço; de repente, o boi enorme deu uma volta e riscou na minha frente e com um grande salto, atingiu a porta (composta de duas partes),quebrando o ferolho. Só tive tempo de me recolher com meu filho pequeno,e o boi saiu desfilando (andando devagarzinho) pelo piso de cimento. Foi incrível! Ele chegou até o muro e de lá em diante, Damião Boi, Clóvis e outros, o retiraram pela garagem.Vivemos um momento de pânico. As pessoas que estavam em casa, se protegiam como podiam, houve alguém que pulou o muro do vizinho.Foi um dia inesquecível!

    Maria Willima Barbosa

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