quarta-feira, 19 de junho de 2013

POESIA

Ei-lo - ... se é, se está, se se mostra
ainda que em desfazimento
é preciso dar forma à vida
pondo movimento na forma
preencher o espaço
como a ave que plana
como o barco que singra
como o corpo que flana
como o soluço que migra

é, pois, necessário
pôr a calçada sob os pés
arredar o caminho com o percurso
e percorrê-lo paciente
restaurando os signos
apreendendo as imagens
redescobrindo a respiração
até refazer o perfil de homem
ter nas mãos sua mente
e sentir o seu coração
este é o começo...
                                                            João Régis
 
Numa crônica publicada em O Poti de 15 de fevereiro de 2009 o jornalista e escritor Washington Araújo disse, entre outras pérolas de um longo desabafo, que: "... Ressoou na avenida Hermes da Fonseca o tiro que calaria uma das mais robustas, corajosas e generosas vozes da geração de 1970. Refiro-me à execução de João Régis Cortês de Lima, assuense, idealista, poeta e para os requerimentos formais, advogado trabalhista. O tiro que ceifou João Régis impediu centenas de novos poemas, novos em folha, que certamente iriam continuar pontuando uma trajetória de muitas lutas: luta pelo direito à liberdade de expressão luta por melhores salários, luta pela dignidade humana, luta irônica (vê-se hoje) pela segurança pública. (...).

O riso franco de Régis uma vez engrenado era por si só uma experiência memorável. Ele ria com a alma, com prazer e com gosto. Porque a intensidade parecia vestir seus atos, gestos e atitudes. Não havia mornidão na vida de quem tinha João Régis no rol das amizades. Idealista desde muito novo ele ousou dizer a que viera. E viera espalhar boas memórias, dar um brilho especial em meia dúzia de estrelas, libertar o pensamento maroto das preocupações do dia a dia, escavar fundo nas contradições da alma humana. (...) Natal mudou de eixo. E mudou porque Régis deixou de estar conosco. Habita agora uma galáxia inteiramente dedicada aos verdadeiros artesões do mundo: os sonhadores".

João Régis Cortês de Lima foi executado no dia 09 de fevereiro de 2008 em plena Avenida Hermes da Fonseca.
Poesia publicada no blog de Fernando Caldas.

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