segunda-feira, 17 de junho de 2013

"Ele partiu mano!"

Um ranchinho no céu
Yuno Silva - Repórter
A frase de Mirabô Dantas, que empresta título a essa matéria, traduz o sentimento geral da família, amigos e admiradores de Chico Elion (1930-2013). “Ele partiu mano!”, limitou-se a dizer o filho Kiko Chagas, guitarrista experiente que dedicou os últimos dois discos à obra do pai. Autor de “Ranchinho de Paia”, canção gravada por Luiz Gonzada em 1981, Chico Elion tinha 83 anos e faleceu às 20h desta quinta-feira (13), no hospital Policlínica do Alecrim, onde estava internado há cerca de duas semanas devido problemas respiratórios. O corpo foi velado ontem no Centro de Velório São José, no Barro Vermelho, e o enterro ocorreu às 16h no cemitério Morada da Paz em Emaús.
                          
Chico Elion compôs mais de 400 músicas, cantadas por nomes de peso como
Luiz Gonzaga e Flávio José (foto: Arquivo Tribuna do Norte)

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Nascido em Assu, Elion casou três vezes e teve oito filhos, dos quais cinco moram no Rio de Janeiro, onde estreou aos 18 anos como artista da Rádio Nacional. Ele se tratava há pouco mais de dez anos de um enfisema pulmonar agudo que acabou gerando um quadro de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica). “Era um profeta singular com muita vontade de viver, lutou muito contra essa doença. A pressão era boa, o coração saudável... só no pulmão que tinha problema”, disse com extrema serenidade a viúva Ana Maria da Silva Caldas Nobre, terceira esposa de Chico Elion com quem compartilhou 33 anos. “Ele fumou muito durante 30 anos, foi isso que matou meu amado”.

Ana Maria, mãe de Daniel Nobre, 32, filho caçula do compositor, instrumenta e cantor, lembra que Elion “tinha o poder sedutor da palavra e dizia sempre que só a diplomacia abre portas”. Kiko Chagas é o mais velho entre os homens e o segundo na lista geral.

A viúva disse estar tranquila “por entender a importância dele para a música e para a Cultura potiguar. Estou aqui segurando a barra para receber bem os amigos e dar apoio à família”. Ana lembra ter passado por momentos difíceis e outros de muita alegria: “Foi uma convivência difícil e rica, ele falava por metáforas e eu sempre dizia ser complicado ser esposa de poeta. Era ciumento e não tinha reservas; aprendi a conviver não batendo de frente”.

Ela contou que nesses 33 anos de relação houve algumas interrupções ao longo do caminho. “Quando voltávamos era sempre aquela festa, desconfio que ele gostava mesmo era dessas festas”, brinca. A viúva foi parceria de Elion também na música, assinando parcerias em várias composições. “Algumas vezes ele passava o mote e eu desenvolvia as bases para letra e melodia, em outras era desafiada a criar”. A marcha “Nupcial Cósmico” é uma dessas parcerias, foi tocada durante o casamento dos dois e permanece inédita.

Astor Piazzolla

O velório de Chico Elion foi acompanhado por Babal e o irmão João Galvão. “Me ligava bastante e sempre lembrava da vez que toquei bandolim pra ele ainda nos anos 1970. Há uns quatro meses disse que tinha um poema para eu colocar a melodia, mas acabou que nunca me passou esses versos”, recorda Babal, que admirava a simplicidade de Elion. “Sabia chegar nas pessoas”, acrescentou Babal.
 
O compositor Babal acompanhou o velório ao lado da viúva Ana Maria:
Ele tinha um poema pra mim (foto: João Maria Alves).

João Galvão comentou com a reportagem do VIVER que certa vez conversava sobre a vinda do maestro Astor Piazzolla a Natal. “Elion dizia que Piazzolla estava sendo enganado pelo produtor que organizava a turnê nordestina, e que o argentino só recebeu o cachê por ele ter exigido o pagamento enquanto presidente da Ordem dos Músicos do Brasil”.
Tribuna do Norte
Blog de Fernando Caldas

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