domingo, 19 de maio de 2013

CRIME


Lembro-me com carinho nostálgico desta árvore.

Situada há décadas defronte à residência dos saudosos seu João Dezenove e dona Raimunda na popular Rua da Faculdade.
Durante anos permitiu abrigo ao sol para os que desfrutavam dos fins de tarde na calçada do casal e vizinhança.
Era um prazer para seu João e dona Raimunda sentarem-se ao lado dos filhos e amigos sob a sombra generosa deste pé de Ficos.
Eu mesmo tive o privilégio de usufruir alguns destes momentos, pelo fato de ser amigo da família.
Hoje, seu João e dona Raimunda já são falecidos.
Cumpriram sua missão na terra e agora repousam noutra dimensão.
A árvore, que tanto foi testemunha e amiga, permaneceu por mais algum tempo.
Porém, diferente de seu João e dona Raimunda que deixaram o convívio terreno a chamado do Criador, a árvore foi brutal e cruelmente ceifada pela ação do poder público que aí está.
Pergunto-me qual o mal que a árvore fez?
Que ameaça ela representou a ponto de torná-la vítima dos que se impõem pela força?
Talvez fique sem respostas.
Mas, sopra-me um amigo que pode ter havido outra razão para justificar sua derrubada.
Seria uma espécie de vingança.
Vingança? – Perguntei incrédulo.
E a resposta:
- Sim. Vingança. Esta árvore foi testemunha da indignação dos alunos que estudam fora do Assú e que foram prejudicados e excluídos pela ação do governo municipal. A extinção da árvore pode ser uma tentativa de apagar um símbolo de revolta cidadã dos valorosos estudantes do município. Como não se pode dirigir a ira contra os alunos, a não ser atingi-los como já foi feito, a árvore tem menos capacidade de se defender e, sem poder reagir, sob seu silêncio teve sua trajetória interrompida pelo machado dos que pensam ter o poder absoluto.
A foto que ilustra o texto é o último registro do pé de Ficos.
Adeus, velha árvore!
Agradeço-lhe pelos anos que proporcionou instantes agradáveis e reconfortantes aos que puderam estar à sua sombra.
E a Deus rogo, em sua infinita misericórdia, que perdoe aos insensatos e insensíveis que fizeram da lâmina fria o argumento para extinguir uma obra que Ele próprio criou.

Postado por Lúcio Flávio em Pauta Aberta

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